Poderia ser considerada feliz a pessoa que aprende a duvidar. Ou, talvez, que não concorde com muito daquilo qual se ouve por aí. A questionar as multidões ou a solidão; os sonhos ou as desesperanças; e nisso viver a conclusão de cada idéia, numa busca nova de percepções.
A cultura, em seu arcabouço, não pode ser sistematica, pois nem o porco espinho o é geometricamente; e como a tendência da cultura é organizar-se, também é valioso o verso de um cantor do "mangue-beat" pernambucano, que afirma: "desorganizando posso me organizar". Dai, convém, apontarmos a sabedoria humana e seu desmembramento da cultura hierarquizada.
Tem-se, pois, por cultura hierarquizada aquela qual encontra na sua formação, objetos sistemicos e metricamente compostos. Pode-se popularmente dizer, e cá duvidamos disso, que a "educação universitária é a suprema pedagogia". Resta-nos discordarmos desta afirmação pelas razões seguintes. Vejamos:
O ser vivo, na labuta de sua sobrevivência defende sua trajetória com o limite de sua força; esta força, que para a biologia pode ser física ou intelectual; para a sociologia geral deve ser denominada força de impulso. Porque o medo nos faz agir, a fome outrossim; o frio nos empenha e a dificuldade nos adestra. Com isso, a sobrevivência deixa seu intento a priori, para tornar-se realidade.
Mas a cultura não é somente sobrevivência, nem o ser vivo é unicamente o porco espinho. Sendo assim, a evolução faz da vida o que se denomina ser chamado: afirmação de si mesmo. O ser vivo reflete isto, em seu ciclo de reprodução naturalmente, e isto o torna ele mesmo. A cultura também se reproduz, mas entendemos que ela nunca pode ser arbitrariamente ela mesma, pois sendo, tornar-se-ia incoerente.
Entretanto como coerência da cultura, frisamos uma passagem da vida do artista plástico Pablo Picasso: indagado pela polícia política do generalíssimo Franco, no auge da ditadura espanhola, se a obra "Guernica" fora feita por ele; então, respondera aos políciais: No, ustedes hicieron! O que não retira sua autoria, mas reflete a coerência do sentimento do pintor, na construção da obra. E isso, não difere do porco espinho que sai de sua toca para alimentar seus filhotes, sabendo que a raposa espreita para também comê-lo. Há coerência
Com isso, resta-nos pensar. Porém devemos andar e agir. Não só pensar, mas mover-nos! Não somente andarmos e agirmos, mas refletirmos e pararmos. O tempo é a unica razão organizada, sendo também da ciência matemática difere do conhecimento empírico, e é intermitente. Talvez, para a psiquiatria de alguns médicos, o pensamento também o seja, o que descordariamos, por certo.
Enfim, com isso, entendemos que as cadeiras universitárias não são unicamente os albergues da herudição, nem os maiores centros do saber, estarão por aí tais outrossim, nas tocas e telas da realidade.